Eduardo e Monica
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Mauro Veiga@1:2320/100 to
All on Sun Aug 14 22:05:02 2016
Esse texto ‚ longo, deve ser lido com calma, vale a pena.
MONICA E EDUARDO*
Este mail e comprido, mas trata-se de uma analise comportamental
critica sobre "Eduardo e Monica" (Renato Russo.)
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A musica Eduardo e Monica da banda Legiao Urbana esconderia uma
implicancia com o sexo masculino? E o que garante Adolar Gangorra,
nosso polemico colaborador humorista. Leia e confira.
O falecido Renato Russo era, sem duvida, um otimo musico e um
excelente letrista. Escreveu verdadeiras obras de arte cheias de
originalidade e sentimento. Como artista engajado que era, defendia
veementemente seus pontos de vista nas letras que criava. E por
isso mesmo, talvez algumas delas excedam a logica e o bom senso.
Como no caso da musica Eduardo e Monica, do album "Dois" da Legiao
Urbana, de 1986, onde a figura masculina (Eduardo) e tratada sempre
como alienada e inconsciente enquanto a feminina (Monica) e a portadora
de uma sabedoria e um estilo de vida evoluidissimos.
Analisemos o que diz a letra. Logo na segunda estrofe, o autor
insinua que Eduardo seja preguicoso e indolente (Eduardo abriu os
olhos mas nao quis se levantar; Ficou deitado e viu que horas eram)
ao mesmo tempo que tenta dar uma imagem forte e charmosa a Monica
(enquanto Monica tomava um conhaque noutro canto da cidade como eles
disseram.).
Ora, se esta cena tiver se passado de manha como e provavel, Eduardo
so estaria fazendo sua obrigacao: acordar. Ja Monica revelaria-se
uma cachaceira profissional, pois virar um conhaque antes do almoco
e so para quem conhece muito bem o oficio.
Mais a frente, vemos Russo desenhar injustamente a personalidade
de Eduardo de maneira fragil e imatura (Festa estranha, com gente
esquisita...). Bom, "Festa estranha" significa uma reuniao de
porra-loucas atras de qualquer bagulho para poderem fugir da
realidade com a desculpa esfarrapada de que sao contra o sistema.
"Gente esquisita" e basicamente, um bando de sujeitos que tem o
habito gozado de dar a bunda apos cinco minutos de conversa. Tambem sao
as garotas mais horrorosas da Via-Lactea. Enfim, esta era a tal "festa
legal" em que Eduardo estava. O que mais ele podia fazer?
Teve que encher a cara pra aguentar aquele pesadelo, como veremos a
seguir.
Assim temos (Eu nao estou legal. Nao aguento mais birita...).
Percebe-se que o jovem Eduardo nao esta familiarizado com a rotina
traicoeira do alcool. E um garoto puro e inocente, com a mente e o
corpo sadios. Bem ao contrario de Monica, uma notoria bebada
sem-vergonha do underground.
Adiante, ficamos conhecendo o momento em que os dois
protagonistas se encontraram (E a Monica riu e quis saber um pouco
mais Sobre o boyzinho que tentava impressionar...). Vamos por partes:
em "E a Monica riu" nota-se uma atitude de pseudo-superioridade desumana
de Monica para com Eduardo. Ela ri de um bebado inexperiente! Mais a
frente, e bom esclarecer o que o autor preferiu maquiar.
Onde le-se "quis saber um pouco mais" leia-se "quis dar para"!
E muita hipocrisia tentar passar uma imagem sofisticada da
tal Monica. A verdade e que ela se sentiu bastante atraida pelo
"boyzinho que tentava impressionar"! E o maximo do preconceito leviano
se referir ao singelo Eduardo como "boyzinho".
Nao e verdade. Caso fosse realmente um playboy, ele nao teria ido se
encontrar com Monica de bicicleta, como consta na quarta estrofe (Se
encontraram entao no parque da cidade A Monica de moto e o Eduardo de
camelo...). Se alguem ai age como boy, esta seria Monica, que vai ao
encontro pilotando uma ameacadora motocicleta. Como e sabido, aos
16 (Ela era de Leao e ele tinha dezesseis...) todo boyzinho ja costuma
roubar o carro do pai, principalmente para impressionar uma
maria-gasolina como Monica. E tem mais: se Eduardo fosse mesmo um
playboy, teria penetrado com sua galera na tal festa, quebraria tudo e ia
encher de porrada o esquisitao mais fraquinho de todos na frente de todo
mundo.
Na ocasiao do seu primeiro encontro, vemos Monica impor suas
preferencias, uma constante durante toda a letra, em oposicao a uma
humilde proposta do afavel Eduardo (O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Monica queria ver o filme do Godard...). Atitude esta nada
democratica para quem se julga uma liberal. Na verdade, Monica e o
que se convencionou chamar de P.I.M.B.A (Pseudo Intelectual Metido a
Besta e Associados, ou seja, intelectuerdas, alternativos, cabecas e
viadinhos vestidos de preto em geral), que acham que todo filme
americano e ruim e o que e bom mesmo e filme europeu, de preferencia
frances, preto e branco, arrastado para caralho e com bastante cenas de
baitolagem.
Em seguida Russo utiliza o eufemismo "menina" para se referir
suavemente a Monica (O Eduardo achou estranho e melhor nao comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo...). Menina? Pudim de cachaca seria
mais adequado. Ha pouco vimos Monica virar um Dreher na goela logo
no cafe da manha e ele ainda a chama de menina? Alem disto, se Monica
pinta o cabelo e porque e uma balzaca querendo fisgar um garotao viril ou
porque e uma baranga escrota mesmo.
O autor insiste em retratar Monica como uma genia sem par. (Ela
fazia Medicina e falava alemao...) e Eduardo como um idiota retardado
(E ele ainda nas aulinhas de ingles...). Note a comparacao de
intelecto entre o casal: ela domina o idioma germanico, sabidamente de
dificil aprendizado, ja tendo superado o vestibular altamente concorrido
para medicina. Ele, miseravelmente, tem que tomar aulas para poder
balbuciar "ieis", "nou" e "mai neime is Eduardo"! Incomoda como sao
usadas as palavras "ainda" e "aulinhas", para refletir ideias de atraso
intelectual e coisa sem valor, respectivamente. Coitado do Eduardo, e um
jumento mesmo...
Na sequencia, ficamos a par das opcoes culturais dos dois (Ela
gostava do Bandeira e do Bauhaus, De Van Gogh e dos Mutantes, De
Caetano e de Rimbaud...). Temos nesta lista um desfile de icones dos
P.I.M.B.As, muito usados por quem acha que pertence a uma falsa
elite cultural. Por exemplo, e tamanha uma pretensa intimidade com o
poeta Manuel de Souza Carneiro Bandeira Filho, que usou-se a expressao
"do Bandeira". Francamente, "Bandeira" e aquele juiz que fica apitando
Impedimento na lateral do campo. O sujeito mais normal dessa mocada ai,
cortou a orelha por causa de uma sirigaita qualquer. Ja viu o nivel, ne?
So porra-louca de primeira. Tem um outro peroba ai que tem coragem de
rimar "Eta" com "Tieta" e neguinho ainda diz que ele e genio! Mais
uma vez insinua-se que Eduardo seja um imbecil acefalo (E o Eduardo
gostava de novela) e criancao (E jogava futebol de botao com seu avo...).
A bem da verdade, Eduardo e um exemplo. Que adolescente de hoje costuma dar
atencao a um idoso? Ele poderia estar jogando videogame com garotos
de sua idade ou tentando espiar a empregada tomar banho pelo
buraco da fechadura, mas nao. Preferia a companhia do avo em um prosaico
jogo de botoes! E de tocar o coracao. E como esse gesto magnanimo foi
usado na letra? Foi so para passar a imagem de Eduardo como um paspalho
energumeno. E obvio, para o autor, o homem nao sabe de nada. Mulher sim,
e maturidade pura.
Continuando, temos (Ela falava coisas sobre o Planalto Central, Tambem
magia e meditacao...). Falava merda, isso sim! Nesses assuntos
esotericos e onde se escondem os maiores picaretas do mundo.
Qualquer chimpanze lobotomizado pode grunhir qualquer absurdo que ninguem
vai contestar. Por que? Porque nao se pode provar absolutamente nada.
Vale tudo!
E o samba do crioulo doido. E quem foi cair nessa conversa mole
Jogada por Monica? Eduardo e claro, o bem intencionado de plantao. E
Ainda temos mais um achincalhe ao garoto (E o Eduardo ainda estava no
Esquema "escola - cinema - clube - televisao"...). O que o Sr. Russo
queria? Que o esquema fosse bar da esquina - terreiro de macumba -
sauna gay - delegacia?? E qual e o problema de se ir a escola?!?
Em seguida, ja se nota que Eduardo esta dominado pela cultura
imposta por Monica (Eduardo e Monica fizeram natacao, fotografia,
teatro, artesanato e foram viajar.)... Por ordem: 1) Teatro e artesanato
nao costumam pagar muito imposto. 2) Teatro e artesanato nao sao la as
coisas mais uteis do mundo. 3) Quer saber? Teatro e artesanato e
coisa de viado!!!
Agora temos os versos mais cretinos de toda a letra (A Monica
explicava pro Eduardo Coisas sobre o ceu, a terra, a agua e o ar...).
Mais uma vez, aquela lengalenga esoterica que nao leva a lugar
algum. Vejamos: Monica trabalha na previsao do tempo? Nao. Monica e
geologa? Nao. Monica e professora de quimica? Nao. Monica e alguma
aviadora? Tambem nao. Entao que diabos uma motoqueira transviada
pode ensinar sobre ceu, terra, agua e ar que uma muricoca nao saiba?
Novamente, Eduardo e retratado como um debiloide pueril capaz de comprar
alegremente a Torre Eiffel apos ser convencido deste grande negocio
pelo cao mais furado do mundo. Santa inocencia...
Ainda em (Ele aprendeu a beber...), nao precisa ser muito esperto
pra sacar com quem... e claro, com Monica, a campea do alambique!
Eduardo poderia ter aprendido coisas mais uteis como o codigo morse
ou as capitais da Europa, mas nao. Acharam melhor ensinar para o rapaz
como encher a cara de pinga. Muito bem, Monica! Grande
contribuicao!
Depois, temos (deixou o cabelo crescer...). Pobre Eduardo. Aquela
altura, estava crente que deixar crescer o cabelo o diferenciaria dos
outros na sociedade. Isso sim e que e ativismo pessoal. Ja da pra ver ai o
estrago causado por Monica na cabeca do iludido Eduardo.
Sempre a frente em tudo, Monica se forma quando Eduardo, o eterno
microbio, consegue entrar na universidade (E ela se formou no mesmo
mes em que ele passou no vestibular...). Por esse ritmo, quando
Eduardo conseguir o diploma, Monica devera estar ganhando o seu oitavo
premio Nobel.
Outra prova da parcialidade do autor esta em ("porque o
filhinho do Eduardo ta de recuperacao"...). E interessante notar que e
o filho do Eduardo e nao de Monica, que ficou de segunda epoca. Em suma,
puxou ao pai e e burro que nem uma porta.
O que realmente impressiona nesta letra e a presenca constante de
um sexismo estereotipado. O homem e retratado como sendo um
simplorio alienado que so e salvo de uma vida mediocre e previsivel
gracas a uma mulher naturalmente evoluida e oriunda de uma cultura
alternativa redentora. Nesta visao esta incutida a ideia absurda que o
feminino e superior e o masculino, inferior. Bem tipico de algum recalque
homossexual do autor, talvez magoado com a natureza masculina. E
sabido que em todas culturas e povos existentes, o homem sempre
oprimiu a mulher. Porem, isso nao significa, em hipotese alguma, que
estas sejam melhores que os homens. Sao apenas diferentes. Se desde o
comeco dos tempos o sexo feminino fosse o dominador e o masculino o
subjugado, os mesmos erros teriam sido cometidos de uma maneira ou de
outra. Por que? Ora, porque tanto homens, mulheres e colunistas sociais
fazem Parte da famigerada raca humana. E e ai que sempre morou o perigo.
Nao importa que seja Eduardo, Monica ou ate... Renato!
*Adolar Gangorra tem 71 anos, e editor do periodico humoristico Os
Reis da Gambiarra e nao perde um show sequer dos "The Fevers". (1999)
___ Blue Wave/386 v2.30
--- SBBSecho 2.27-Win32
# Origin: Ninho do Abutre 2 - Rio de Janeiro - Brasil * (4:801/194)
* Origin: LiveWire BBS - Synchronet - LiveWireBBS.com (1:2320/100)