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    From Mauro Veiga@1:2320/100 to All on Fri May 15 11:35:44 2009

    Otimo texto do mestre B. Piropo que expressa exatamente o que sinto
    em rela‡„o ao Twitter.


    TUITANDO


    O Twitter ‚ uma rede social que permite a seus usu rios trocarem entre si pequenas mensagens de at‚ 140 caracteres conhecidas como "tweets".

    O par grafo anterior tem exatos 140 caracteres e, portanto, corresponde ao tamanho m ximo de um "tweet". O que se pode comunicar deste modo t„o
    sucinto?

    Antes de prosseguir conv‚m esclarecer que esta ‚ a segunda coluna que
    escrevo sobre o assunto. A primeira destinou-se a publica‡„o em jornal, mais especificamente em minha coluna semanal "T‚cnicas e Truques" do suplemento
    de inform tica do Estado de Minas de 07/05/07 e no do Correio Brasiliense na segunda-feira subsequente.

    Ent„o por que escrever mais uma aqui no F¢rumPCs? Bem, ‚ que em jornal fica-
    se limitado ao espa‡o dispon¡vel. Al‚m disso, o universo de leitores ‚ diferente. Mas a raz„o principal n„o ‚ nem uma nem outra: ‚ o fato do
    F¢rumPCs ser um meio interativo que me permite conhecer a opini„o dos
    leitores quase imediatamente. E, particularmente sobre este t¢pico, estou muito interessado na opini„o de vocˆs. Porque minha vis„o do Twitter n„o ‚
    l  das mais favor veis e eu gostaria de conhecer os argumentos daqueles que pensam de forma diferente - opini„o que, naturalmente, ser  por mim
    respeitada como tenho certeza que a minha por eles o ser .

    A forma de participar do Twitter ‚ simples. Visita-se a p gina principal, entra-se com algumas (poucas) informa‡”es pessoais - que, para quem desejar, podem ser complementadas mais tarde na p gina "Settings" - e escolhe-se uma senha. Isto feito, pode-se usar um recurso do pr¢prio Twitter para fazer uma varredura nas listas de contatos dos principais provedores de correio eletr“nico tipo "webmail" (mais especificamente: GMail, Yahoo, AOL, Hotmail
    e MSN) para verificar se algum amigo j  est  inscrito na rede, Mas aten‡„o: para que esta varredura seja feita vocˆ ter  que fornecer seu endere‡o de correio eletr“nico em cada provedor e sua senha, que em princ¡pio deveria
    ser guardada a sete chaves. Seja como for, encontrados os amigos, quem assim
    o desejar pode passar a "segui-los" e enviar-lhes uma mensagem informando
    que est  dispon¡vel no Twitter para ser "seguido" ("seguir" - ou "to follow" em inglˆs - ‚ a forma pela qual o Twitter designa o ato de seus membros trocarem mensagens, ou "tweets"). Ou pode ainda escolher em uma longa lista
    de "celebridades" (me desculpem pelas aspas as que constam da lista e s„o de fato "c‚lebres" segundo a acep‡„o do Houaiss: "distinto pelo saber, m‚rito e demais qualidades louv veis; not vel, ilustre"; acep‡„o que n„o abarca, por exemplo, participantes semianalfabetos do biguebroder, apresentadores/as de programas vespertinos sensacionalistas da televis„o, cronistas de fofocas e outros tantos intelectuais de igual estirpe) para ser seu (dela) seguidor e tomar conhecimento de fatos sobre sua (dela) vida, fatos estes de
    importƒncia transcendental sem o conhecimento dos quais seria imposs¡vel seguir vivendo, tipo: "Fui entrevistado pela revista Caras" e outros tantos acontecimentos de igual relevƒncia.

    "Tweeter" (com dois "EE", n„o com "I" como o nome da rede) ‚ o nome que se
    d  em inglˆs …queles altofalantes de pequeno diƒmetro concebidos para reproduzir os sons mais agudos. O nome prov‚m do significado do voc bulo "tweet" que, ainda em inglˆs, significa "gorjeio", "pio" (de p ssaro). No
    caso da rede, foi usado com a inten‡„o de deixar claro que as mensagens trocadas devem ser curtas e concisas como o piar dos p ssaros. Por isso um "tweet" n„o pode conter mais de 140 caracteres.

    Por que cargas d' gua um neg¢cio desses foi concebido?

    Bem, o mote do s¡tio ‚ "What are you doing now? " ("O que vocˆ est  fazendo agora?"). Em tese ele foi criado para que seus usu rios comuniquem em tempo real aos respectivos seguidores o que eles, os "seguidos", est„o fazendo momento a momento. E nem sequer ‚ preciso um computador ou qualquer outro dispositivo com acesso direto … Internet para se manter absolutamente atualizado sobre a vida alheia: quem preferir pode fornecer o n£mero de seu telefone celular e as mensagens ser„o a ele enviadas direta e imediatamente sob a forma de mensagens de texto, ou "torpedos".

    Mas e da¡? Para que serve isso?

    Saber, mesmo, eu n„o sei. Nem desconfio. Por isso fui auscultar a fonte, ou seja, tentar descobrir no pr¢prio Twitter qual viria a ser sua serventia. L  encontrei a informa‡„o que o intuito de seus desenvolvedores foi criar um
    meio atrav‚s do qual cada um de n¢s pudesse informar ao mundo - ou pelo
    menos a uma parte dele, nosso c¡rculo de amizades - o que estamos fazendo momento a momento.

    Sim, e da¡? Continuo sem entender qual a utilidade de um neg¢cio destes.

    Bem, a p gina de abertura do Twitter cont‚m um v¡deo explicativo. Quem sabe poderia ajudar a elucidar? Veja a figura 1, que mostra trˆs de seus quadros sucessivos com legenda em portuguˆs. Dizem as legendas, textualmente: "Mas vocˆ n„o mandar  um e-mail a um amigo para dizer-lhe que vocˆ est  tomando
    um caf‚. Seu amigo n„o precisa saber disso. Mas, e as pessoas que querem
    saber sobre as pequenas coisas que ocorrem em sua vida? ".

    Ao que parece a ideia ‚ insinuar que estas pessoas poder„o ser informadas atrav‚s do Twitter do fato aparentemente relevante que em tal ou qual
    momento vocˆ est  tomando um caf‚. O que, sem d£vida, ‚ poss¡vel. Mas, por mais que eu dˆ tratos … bola, por mais que tente descobrir o que se esconde por detr s de uma ideia t„o singela, me escapam as raz”es que podem levar
    uma pessoa a querer saber que algu‚m, seja l  quem for, estaria tomando um caf‚ neste ou naquele momento. E olhe que n„o estou dando asas … imagina‡„o para escolher um fato especialmente desimportante, estou usando o pr¢prio exemplo do v¡deo do Twitter: tomar caf‚.

    N„o obstante tudo isso o Twitter ‚ um sucesso estrondoso. Em todo o mundo, inclusive no Brasil. O n£mero exato de seguidos e seguidores ‚ um segredo
    n„o divulgado pela empresa. Mas pode ser estimado. Segundo a entrada correspondente ao Twitter na Wikipedia, o analista do s¡tio "Forrester Research" Jeremiah Owyang estima que o n£mero de usu rios da rede se situe entre quatro e cinco milh”es enquanto o blog Nielsen.com estima que esteja pr¢ximo de seis milh”es, com um total de 55 milh”es de visitas mensais. O
    que faz do Twitter a terceira rede social da Internet (as primeiras s„o, respectivamente, Facebook e MySpace).

    Eu mesmo pude constatar pessoalmente a for‡a do Twitter. Como n„o me agrada escrever sobre assuntos que ignoro, antes de abordar o tema resolvi abrir
    uma conta no Twitter e dar uma olhada no teor dos "tweets" que encontrasse.

    Com eles, n„o me surpreendi. Eram mais ou menos o que esperava: informa‡”es irrelevantes sobre pessoas que mal conhe‡o comunicando coisas que n„o desejo saber sobre suas pr¢prias vidas. Mas, no dia seguinte, qual n„o foi minha surpresa ao descobrir que, mesmo abrindo uma conta sem avisar a ningu‚m e fazer qualquer alarde, conta que evidentemente eu n„o tinha a menor inten‡„o de usar, eu j  tinha sete "seguidores". Apressei-me ent„o a postar meu primeiro (e, muito provavelmente, £ltimo) "tweet" para respeitosamente informar aos ditos seguidores que a conta havia sido aberta apenas para que
    eu tomasse conhecimento do funcionamento do Twitter, que definitivamente n„o pretendia atualiz -la e que solicitava desculpas pelo fato de n„o ter
    deixado isso claro, mesmo porque n„o saberia como fazˆ-lo (quer dizer, n„o
    foi exatamente isso o que escrevi, j  que em 140 caracteres n„o cabe a explica‡„o mais comezinha seja l  do que for, mas caprichei para tentar resumir a coisa o melhor que pude no espa‡o dispon¡vel; afinal, tratava-se
    de meu £nico "tweet" j  que no Twitter n„o pretendo dar mais nem um pio...)

    Talvez meu espanto pelo sucesso do Twitter se deva a meu notoriamente
    escasso interesse sobre a vida alheia. De fato pouco me interessa saber o
    que fulano, beltrano ou sicrano fazem ou deixam de fazer com sua vida a n„o ser que o fato seja relevante para ele (no caso de ser uma pessoa querida), para mim ou para a sociedade em que vivemos. Mas como n„o me vem … mente qualquer fato com estas caracter¡sticas que possa ser descrito com menos de 140 caracteres, para mim o Twitter continua sendo de utilidade pouca ou nenhuma.

    O que me n„o ajuda nem um pouco a entender como um neg¢cio desses faz
    tamanho sucesso e atrai tanta gente. Ser  que deixei escapar algum aspecto crucial, aquele detalhe fundamental que esconde a real importƒncia do
    Twitter?

    Mantive-me com esta d£vida at‚ recentemente, ao ler uma nota de meu querido amigo Nelson Vasconcelos em sua coluna "Conex„o Global" da se‡„o de economia do Globo informando que "mais de 60% dos twiteiros deixam de usar o servi‡o
    j  no primeiro mˆs".

    Como ‚ que ‚? Quase dois ter‡os desistem em um mˆs? Vale a pena dar uma
    olhada nisso...

    Fui, ent„o, … fonte citada pelo Nelson. E l  estava o artigo de David
    Martin, vice-presidente de Nielson Wire: "Twitter Quitters Post Roadblock to Long-Term Growth" ("Desertores do Twitter s„o uma barreira para o
    crescimento em longo prazo") que informa em mais de 140 caracteres que "atualmente mais de 60 porcento dos usu rios americanos do Twitter n„o retornam no mˆs seguinte, ou em outras palavras, a taxa reten‡„o de
    audiˆncia do Twitter, ou a porcentagem de usu rios de um dado mˆs que
    retorna no mˆs seguinte ‚ de cerca de 40 porcento" ("Currently, more than 60 percent of U.S. Twitter users fail to return the following month, or in
    other words, Twitter's audience retention rate, or the percentage of a given month's users who come back the following month, is currently about 40 percent. ") E ressalta que este porcentual foi medido depois da recente
    ades„o de Oprah Winfrey, uma popular¡ssima apresentadora de televis„o americana. Porque nos doze meses que antecederam … tal ades„o esta taxa
    mensal de reten‡„o resvalava l  pelos 30 porcento.

    No artigo, Martin exp”e um cuidadoso estudo estat¡stico que o leva a afirmar que "A partir de certo ponto o n£mero de novos usu rios simplesmente n„o ‚ suficiente para repor as deser‡”es" ("There simply aren't enough new users
    to make up for defecting ones after a certain point"). E fecha o artigo afirmando que "o Twitter n„o ser  capaz de sustentar seu crescimento
    mete¢rico se n„o estabelecer um n¡vel mais alto de lealdade de seus
    usu rios. E, Francamente, se Oprah n„o foi capaz de conseguir isso, eu n„o
    sei quem poderia" ("Twitter. will not be able to sustain its meteoric rise without establishing a higher level of user loyalty. Frankly, if Oprah can't accomplish that, I'm not sure who can").

    O artigo de David Martin, como era de esperar, despertou um bocado de protestos ("great amount of criticism") da parte dos entusiastas do Twitter, que alegavam que Nielsen n„o teria considerado em suas estat¡sticas todos os aplicativos e outros s¡tios que integram a comunidade Twitter. Ele ent„o repetiu o estudo, desta vez considerando os s¡tios TweetDeck, TwitPic, Twitstat, Hootsuite, EasyTweets, Tumblr e outros, e concluiu que os
    resultados n„o mudam. As conclus”es, assim como os gr ficos correspondentes, est„o em seu artigo "Update: Return of the Twitter Quitters".

    Mas n„o ‚ s¢ isso. Comentando o artigo de Martin, o analista Steven Hodson publicou em 28/04 no "The Inquisitr" o artigo "Os n£meros que o Twitter n„o quer que vocˆ saiba" ("The numbers Twitter doesn't want you to know about") onde afirma: "Eu sempre sustentei, e ainda o fa‡o, que o n£mero de novos assinantes realmente significa muito pouco. Na maioria dos casos estamos lidando com uma popularidade inicial que incha os n£meros mas que, na fria
    luz do dia, n„o tem valor em longo prazo. O Twitter pode parecer que est  explodindo em todo o horizonte, mas al‚m da mar‚ inicial de celebridades e outras figuras da moda, quantos deles ainda estar„o l  em um mˆs, seis meses ou um ano?" ("I'vˆ always maintained, and still do, that sign up numbers actually mean very little. In most cases we are dealing with first blush popularity puffing up the numbers but in the cold light of day they have no lasting value. In this case Twitter might appear to be exploding across the landscape but beyond the initial flood of celebs and other glitterati just
    how many of them will still be around in a month, in six months or a year").

    Ah, bom.

    Ent„o n„o sou o £nico a achar que este neg¢cio n„o passa de um modismo e seu crescimento explosivo n„o tem base s¢lida para se sustentar.

    Porque uma an lise superficial dos artigos acima citados leva … uma
    conclus„o da qual eu j  vinha desconfiando h  algum tempo, a saber:

    1) a alt¡ssima taxa de evas„o leva a crer que ningu‚m, exceto alguns
    fan ticos por detalhes da vida das "celebridades", aguenta tamanha superficialidade por muito tempo. Passado um mˆs, dois de cada trˆs usu rios pulam fora;
    2) o que faz com que Twitter n„o passe muito de um modismo que, como
    qualquer outro, carece de sustenta‡„o em longo prazo e cedo ou tarde deve definhar como todos os demais modismos da Internet e desaparecer ou reduzir-
    se …s propor‡”es devidas: d£zia e meia de man¡acos acompanhando a vida de
    meia d£zia de megal“manos;

    E, mesmo sabendo que me arrisco a despertar coment rios indignados de alguns tuiteiros, afirmo, com o devido al¡vio, que quando isto ocorrer, no que me
    diz respeito ele n„o far  a menor falta.

    Mas esta ‚ s¢ a minha opini„o sobre o assunto. E eu gostaria de conhecer sua opini„o. Que, naturalmente, pode ou n„o estar de acordo com a minha. Em qualquer caso vocˆ tem toda a liberdade de exp“-la como melhor lhe aprouver
    na se‡„o de coment rios.

    Mas se porventura a leitura desta coluna o deixou furibundo a ponto de
    querer me dizer um par de desaforos, provavelmente vocˆ ‚ um ferrenho f„ e defensor do Twitter. Neste caso (e apenas neste caso), para provar que a limita‡„o de espa‡o no Twitter ‚ irrelevante, lembre-se de restringir seu coment rio a n„o mais que 140 caracteres...



    Fonte: coluna de B. Piropo em www.forumpcs.com.br


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