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Brasileira vai chefiar publica‡ao que Carl Sagan liderou por 12 anos

Entrevista exclusiva com Rosaly Lopes: primeira mulher e nao americana nomeada como editora-chefe de uma das revistas cientificas mais importantes do mundo

PorÿTiago Jokura
access_time31 jan 218, 11h35
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ÿ(NASA/Reprodu‡ao)

A astronoma brasileiraÿRosaly Lopesÿassume nesta quinta-feira, 1§ de fevereiro, o posto de editora-chefe daÿIcarus, periodico mais relevante no campo da ciencia planetaria, fundado em 1962 e cujo primeiro editor-chefe foi ninguem menos do que Carl Sagan. Durante os proximos tres anos com op‡ao de extensao por outro trienio Rosaly comandara um time de editores que publica, mensalmente, os melhores artigos cientificos do mundo sobre sistemas planetarios.

Ate o fim de 217, Rosaly coordenava um time de 8 astronomos, como gerente de Ciencia Planetaria do Laboratorio de Propulsao a Jato da Nasa (JPL, na sigla em
ingles). A partir de amanha, ela segue como funcionaria da Caltech (universidade que abriga o JPL), mas deixa as fun‡oes gerenciais para se dedicar a atividades de pesquisa que conciliara com o comando daÿIcarus.

Figurinha carimbada aqui na SUPERÿha mais de 2 anos,ÿRosaly interrompeu suas ferias no Havai para nos atender por telefone com o sotaque britanico-carioca de quem deixou Ipanema aos 18 anos, em 1976, para explorar este planeta (e tantos outros) como poucos:

SUPER: Primeiramente, parabens pela nomea‡ao a chefia daÿIcarus. E muito obrigado (quer dizer, desculpa mesmo) por interromper suas ferias havaianas para nos dar essa entrevista.

Rosaly Lopes:ÿImagina, Tiago. Muito bom poder falar sobre astronomia para o publico brasileiro.

S: Como foi seu processo de nomea‡ao? Voce foi convidada ou selecionada?

RL:ÿAs duas coisas, na verdade. Com a saida do editor-chefe Phil Nicholson, a AAS (Sociedade Americana de Astronomia, institui‡ao que publica aÿIcarusÿem parceria com a Elsevier) convidou alguns astronomos com experiencia necessaria para assumir a fun‡ao e agendou conversas com os interessados. Acredito que tenham entrevistado meia duzia de candidatos. Eu ja tinha feito parte do conselho editorial da revista, presidi a Divisao de Ciencia Planetaria da AAS e
publiquei inumeros artigos naÿIcarus. Entao, ja estava bem familiarizada com a publica‡ao.

S: E o que faz, exatamente, uma editora-chefe daÿIcarus?

RL:ÿVou tentar resumir: coordenarei o trabalho de um time de editores que recebe dezenas, ate centenas de artigos todo mes. Eles selecionam os materiais mais relevantes e convidam um par de cientistas especializados no campo de conhecimento de cada artigo para revisar o conteudo e sugerir ajustes necessarios para a publica‡ao. Esse processo de revisao dos pares dura de 4 a 6
semanas. Se nao houver concordancia entre os especialistas sobre a publica‡ao ou nao do artigo, sou eu quem desempata. No caso de artigos que os editores avaliem de cara como espinhosos, eu mesma participo do processo de revisao.

S: Seus tres antecessores sao da Universidade Cornell. Sua nomea‡ao indica uma
mudan‡a de rumos naÿIcarus?

RL:ÿNao, absolutamente. Cornell centralizou a chefia de edi‡ao
daÿIcarusÿporque a revista nasceu la, num tempo em que a informa‡ao nao fluia como hoje demorava para um editor se comunicar com colaboradores e pesquisadores. Entao, alem de Cornell ser um centro de excelencia em astronomia, era mais facil manter a burocracia por la minha assistente, inclusive, trabalha em Cornell. Com as facilidades de comunica‡ao atuais, nao ha o que impe‡a uma editora-chefe de despachar da California, na costa oeste dos EUA, com a assistente alocada na costa leste.

S: O que voce planeja para fazer jus ao legado de seus antecessores?

RL:ÿCarl Sagan foi um dos fundadores daÿIcarusÿe chefiou a revista por 12 anos. Joseph Burns e Phil Nicholson, que passaram 17 e 2 anos a frente da empreitada, foram meus colegas na missao Cassini, que explorou Saturno e suas luas. Quero dar continuidade a excelencia e a relevancia da publica‡ao, mantendo o rigor cientifico construido ao longo de mais de 5 anos. Alem disso, pretendo aumentar o numero de edi‡oes tematicas (dedicadas a um assunto especifico) e dar mais espa‡o para estudos sobre exoplanetas (localizados fora do Sistema Solar) e sobre astrobiologia.

S: Quer deixar algum recado para os brasileiros?

RL:ÿAgrade‡o o contato feito pela SUPER e quero deixar uma mensagem, sim: espero que mais cientistas brasileiros se envolvam com a ciencia planetaria. Sempre que posso, colaboro com pesquisadores e institui‡oes para que isso aconte‡a e vou seguir nessa linha. Inclusive, devo passar por Natal e pelo Rio de Janeiro ainda em 218. Quem sabe a gente possa conversar ao vivo dessa vez.

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