O misterioso filme de Jerry Lewis sobre o Holocausto que nunca foi
lancado
Richard Latto
BBC South
31 outubro 2016
Jerry Lewis em "O Dia em que o Palhaco Chorou"
Obra perdida de Lewis contava a historia ficticia de um palhaco que
conduzia criancas ate camaras de gas
Renegado e escondido por mais de quatro decadas, o filme de Jerry Lewis O
Dia em que o Palhaco Chorou, que relata o Holocausto, continua a agucar a curiosidade dos admiradores do comediante, famoso por estrelar sucessos
como O professor Aloprado e O Mensageiro Trapalhao nos anos 60.
Cenas ineditas da producao passaram a ser reveladas este ano, mas os fas
podem ter que aguardar ainda outra decada para ter acesso as filmagens completas.
Em janeiro, um documentario da BBC revelou filmagens ineditas da
producao, que nunca chegou a ser lancada. Algumas imagens tambem
chegaram a circular pela internet.
Os originais da obra foram parar na Biblioteca do Congresso, em
Washington, junto com todo o acervo de Lewis, que foi adquirido pela instituicao.
Em setembro, o entao bibliotecario emerito do congresso James Billington afirmou ao USA Today que Lewis impos um embargo para a divulgacao das filmagens, que so podem ser liberadas em 2026.
As cenas foram gravadas no inicio dos anos 70, em um momento de apice na carreira carreira de Lewis, que escreveu o roteiro e dirigiu o projeto.
O filme contaria a historia ficticia de um palhaco chamado Helmut Doork,
que, ao ser preso por soldados nazistas, passou a entreter criancas
enquanto as conduzia ate camaras de gas.
Pessoas que trabalharam no filme foram ouvidas por David Schneider, que apresentou A Historia de O Dia em que o Palhaco Chorouo, o documentario
da BBC que resgata trechos da obra. Entre os entrevistados da producao
esta o ator sueco Lars Amble, que morreu em agosto de 2015 e aparece na producao de Lewis interpretando um policial nazista.
No documentario, Amble relembra ser recrutado por Lewis, que o chamou
para o quarto de um hotel em Estocolmo, onde estava hospedado na epoca, e disse: "Eu sei o papel que voce fara. Sera o de um cara realmente mau".
Pela fama de Lewis na epoca das filmagens, a producao do filme foi
assunto bastante comentado na Suecia, segundo Erik Kotschack, filho de um produtor local que trabalhou para facilitar as gravacoes em um antigo
campo de concentracao.
De acordo com Erik, o seu pai primeiramente trabalhou com entusiasmo no projeto, mas, apos problemas no set, a relacao entre ele e Lewis se
deteriorou.
"Eles eram melhores amigos no inicio da producao, mas depois nem tanto,"
conta.
"Precisamos de angulos e metodos diferentes para compreender o holocausto
e a ficcao pode nos ajudar a fazer isso", diz Yael Fried, diretor do
Museu Judaico de Estocolmo.
A producao sempre despertou o interesse do publico. Supostas copias do
script do filme circulam pela internet. Tambem ha tentativas de
reencenacoes.
Jan Lumholdt, um critico de cinema baseado na Suecia, considera que uma
das razoes por tras do interesse em torno do filme e o fato de que, ate
entao, muito poucas pessoas tiveram acesso ao material.
"Lewis e um comediante e esse e o filme mais serio que ele ja fez", diz Lumholdt. "Sempre achei que ha incontaveis exemplos de grandes atuacoes
e obras sombrias vindas de comediantes, existe um certo apelo nisso,"
avalia.
Existem muitos filmes sobre o Holocausto, porem ha uma certa dificuldade
em aceitar uma historia de ficcao que tem como pano de fundo um dos
periodos mais dificeis da historia.
Mas Yael Fried, diretor de projetos do Museu do Judaismo em Estocolmo, se
diz favoravel a tais obras.
"Precisamos de angulos e metodos diferentes para compreender o holocausto
e a ficcao pode nos ajudar a fazer isso", diz. "Voce pode explorar
personagens ficticios em um ambiente real, mas e preciso ter cuidado para deixar bem claro que se trata de ficcao," acrescenta.
Schneider, que apresentadou o documentario da BBC, tambem e comediante e
e filho de sobreviventes do Holocausto. Ele conta que sua mae, uma
atriz, conseguiu fugir de Viena em 1938 junto com seu pai, um dramaturgo.
"Sempre fui muito consciente sobre o Holocausto desde pequeno", ele
conta. "Como comediante, sempre fui fascinado sobre como voce pode fazer comedia em cima de um assunto tao delicado," diz.
Ele conta ainda: "Costumava atuar em shows de comedia judia e me lembro
que certa vez me passaram um bilhete no camarim que dizia 'Somos de uma caravana de sobreviventes de Auschwitz e viemos para ver voce, seria
possivel dar um alo para a gente durante a sua apresentacao?'".
Schneider afirma que nao sabia como reagir. "O que eu faco? Vou la e
grito: 'Ola pessoal, tem alguem de Auschwitz na audiencia hoje?'"
O apresentador afirma que muitos comediantes judeus acabaram explorando
essa area. "E justamente porque isso e algo tao central para as suas identidades", afirma.
Em cenas ineditas de Lewis sendo entrevistado no set, resgatadas pelo documentario, ele e visto dizendo: "Comedia e a nossa valvula de escape.
Sem ela, acho que eu desapareceria, evaporaria".
http://www.bbc.com/portuguese/geral-37750360
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